«[…]
(…) a primeira constatação é a da grande confusão sobre os conceitos de “fogo” e de “incêndio”. Neste aspecto, como em outros, a língua inglesa torna tudo mais fácil: fogo é fire e incêndio é wildfire. Logo, os incêndios são um caso particular dos fogos, são aqueles que dificilmente se controlam, os fogos “selvagens”, que se distinguem por isso de outras categorias de fogos, aqueles que são utilizados de forma controlada, em geral designados na língua inglesa por prescribed fires e que, em Portugal, tornaram a designação quase equivalente de “fogos controlados”.
Parecia uma divisão simples, facilmente entendível pelo público em geral, por políticos, por jornalistas. Mas não! As campanhas mais mediáticas, com mais meios e mais responsabilidades continuam a não entender a diferença. E aí está o slogan, que até nem rima, do “Portugal sem fogos depende de todos”.
Sem caricaturar, mas usando apenas analogias com outros elementos da natureza, podia também apelar-se a um Portugal sem insetos, não distinguindo aqueles que nos são tão úteis, como as abelhas, de outros que propagam doenças, como o nemátodo da madeira do pinheiro. E muitas outras analogias serviriam para ilustrar a pobreza de uma frase que, infelizmente, tem perdurado em campanhas sucessivas com a justificação de que o público não consegue perceber a diferença entre incêndio e fogo. Ou talvez sejam os próprios promotores da campanha que não o tenham percebido…
[…]»
Francisco Castro Rego. A Defesa da Floresta Contra Incêndios (DFCI). Agricultura, Floresta e Desenvolvimento Rural. Ed. IESE (Instituto de Estudos Sociais e Económicos), 2016, pp139.