Tenho uma especial atração por estes temas, não sei exatamente qual a razão, mas, para além do natural espanto perante algo que está fora do alcance do meu conhecimento científico, pressinto que a mistura de ciência e filosofia me provoca alguma inquietação. A relação do violino e dos seus sons com a mecânica quântica em Os diálogos sobre física atómica (um livro com muitos anos...) e esta dedução de que é absolutamente inútil querer voltar ao passado para mudar o futuro, partindo da teoria da relatividade e tendo como exemplo o Covid-19 , são provocações que me convocam a uma reflexão, obviamente sem conclusões. Mas não há nada a temer. A filosofia e a ciência são dois aliados poderosos ligados por uma ponte precária sobre um rio de dúvidas. E é aqui que reside a sua força.
«Viajar no tempo é uma possibilidade que passou a ser levada mais a sério depois de assumida no último livro do físico e cosmólogo Stephen Hawking, entretanto desaparecido. Em 2018, uma série de outros físicos asseguravam estarem também absolutamente convencidos de que, pelo menos matematicamente, era uma possibilidade.
Agora, uma equipa da Universidade de Queensland, na Austrália, acaba de anunciar que resolveu o paradoxo lógico que valida a teoria. Algo que concilia a relatividade geral de Einstein com a dinâmica clássica.
(…)
Para os seus cálculos, os cientistas socorreram-se da pandemia de Covid-19 como modelo para determinar se as duas teorias poderiam coexistir – já que o mais famoso físico alemão considerava a possibilidade de se viajar no tempo, mas a ciência da dinâmica avisava que a sequência fundamental dos acontecimentos não poderia sofrer interferências.
Digamos que alguém decidia viajar para o passado para tentar impedir que o paciente zero da atual pandemia fosse exposto ao vírus. Mas se isso acontecesse isso eliminaria a motivação para voltar do passado, já que a pandemia não existiria. (…) Principal conclusão: é absolutamente inútil querer voltar ao passado para mudar o futuro.
[…]»
E se lhe disserem que viajar no tempo é (matematicamente) possível?, in Visão, 30.09.2020