[...]« Não há paisagens para sempre. A paisagem é o registo de uma sociedade que muda e, se a mudança é tanta, tão profunda e acelerada, haverá disso sinais, para além de pouco tempo e muito espaço para compreender ou digerir as marcas e formas como se vão atropelando mutuamente, ora relíquias, ora destroços. [...]»
(Foto: Casa abandonada em Penafalcão)
«[...] Agora vai minguando o espaço para as histórias e as personagens líricas do mundo rural. As marcas e as memórias do Portugal profundo vão-se decompondo com a desruralização e o seu rasto de efeitos culturais: o despovoamento, o envelhecimento, o abandono da produção agrícola e dos campos, o desaparecimento de certos estilos de vida, saberes e práticas culturais - o interior, no dizer mais frequente sobre estas coisas. Os poucos que vão ficando vivem de uma economia assistida entre pensões, reformas, poupanças, ou remessas de familiares e quem pode sai porque são escassos os empregos. A miragem do bucolismo e dos paraísos perdidos é mais de quem está no exterior (do tal interior) e pensa que o rural e Natureza são lugares para passar férias. [...]»
Álvaro Domingues in Vida no Campo. Edições de Arquitetura. Dafne Editora, 1ª ed., pp 15 e 23.