«[…] Lembremos que o ano de 2017 terminou com uma área queimada contínua que se estende desde o sul do Tejo quase até Viseu, no coração florestal do país, e que afetou de maneira indiferente pinhais e eucaliptais. Urge reconhecer que essas paisagens são insustentáveis e indefensáveis, sobretudo face ao processo de alterações climáticas que aumenta a frequência de situações de elevado risco meteorológico de incêndio e ao abandono rural, que retira capacidade de controlo sobre o território. O eucalipto faz parte deste problema, na medida em é já a espécie que maior extensão ocupa na floresta portuguesa, mas o problema é mais vasto e profundo. Resulta de grandes transformações do meio rural durante as últimas décadas, conjugadas com as nossas condições bioclimáticas cada vez mais favoráveis ao fogo. É ilusório pensar que se pode preencher apenas com floresta o grande vazio deixado pela perda de cerca de 1 500 000 hectares de terras agrícolas desde meados do século XX e o aumento recente do tamanho e frequência da ocorrência de mega-incêndios florestais elimina quaisquer dúvidas. […]»
José Miguel Cardoso Pereira in Eucaliptos, fogos e outras coisas mais. Cultivar, Cadernos de Análise e Prospetiva, nº 14. Ed. GPP, pp 21-22.