(Barragem Idanha-a-Nova)
«A paisagem não é uma metáfora para a natureza, uma maneira de evocá-la; ela é de fato a natureza. Aqui se poderia dizer: "Como? Se a paisagem não é a natureza, o que seria ela, então?". Falar, portanto, de uma construção retórica (de um artifício, desta vez linguístico) acerca da paisagem é crime de lesa-majestade. A natureza-paisagem: um só termo, um só conceito - tocar a paisagem, modelá-la ou destruí-la, é tocar a própria natureza.» (pp 39)
«Nessa ótica, a paisagem é um "monumento natural de caráter artístico"; a floresta, uma "galeria de quadros naturais, um museu verde". Essa definição, elaborada pelo Ministério da Instrução Pública e das Belas-Artes francês em 1930, destaca a ambiguidade; reúne em uma fórmula os dois aspectos antagônicos da noção de paisagem: o ordenamento construído e o princípio eterno; enuncia uma perfeita equivalência entre a arte (quadro, museu, caráter artístico) e a natureza.» (pp 41)
«A imagem não está voltada para manifestações territoriais singulares, mas para o acontecimento que solicita sua presença. E assim como o lugar (topos) é, segundo a definição aristotélica, o invólucro dos corpos que limita, a pretensa "paisagem" (lugarzinho: topion) nada é sem os corpos em ação que a ocupam.» (pp 49)
«A cor é subsidiária. O criador (a natureza) desenha primeiro os contornos, depois (hysteron), ele escolhe as cores...» (pp 60)
Anne Cauquelin. A Invenção da Paisagem, Ed. e-book (vers. brasileira)