(Óleo s/tela, 66x75)
Os espaços têm sempre o tamanho da nossa imaginação, no limite são infinitos. Já aquilo que os preenche está condicionado pela memória, podendo resumir-se a pequenos pedaços, alguns fragmentos que persistem à voragem do tempo. É um erro pensar que alguns desses pedaços também são imaginário, já são qualquer coisa sem nunca terem sido coisa nenhuma. O sonho é sonho desde que exista um espaço, mesmo imaginário, mas esse sonho só é real se as personagens tiverem um rosto, mesmo sabendo que esse rosto, esse pequeno fragmento, é o que resta de um processo de decantação inconsciente.
(Sinto que escrevo palavras cujo sentido poderia ser o mesmo se as letras estivessem dispostas ao acaso. Sinto que os fragmentos do quadro têm esta lógica de arbitrariedade, de incoerência exposta, de gosto pessoal, de coisas só minhas. É uma forma de ser egoísta).