De vez em quanto votamos, elegemos uns tipos e esperamos que eles façam as coisas que prometeram. É fácil perceber que eles nunca fazem o que prometem. São mentirosos ou muito simplesmente ingénuos?
São mentirosos porque, de facto, prometeram o céu e oferecem-nos o inferno, qualquer que seja o tamanho das labaredas de cada um destes lugares. Mas acho também que alguns são sobretudo ingénuos! Ingénuos ao ponto de pensarem que o palco a que ascenderam (onde os eleitores os colocaram), é um palco de livre exercício do poder.
Não é! É um palco em que cada um representa o papel de fantoche de qualquer outro poder que os transcende. Este papel de marionette nem é novo e foi ao longo dos tempos desmontado (às vezes em situações críticas e de alguma tragédia colectiva...) e os fantoches afastados para as labaredas do ridículo. O que é novo, completamente novo, é que não se percebe quem manipula as marionettes, numa deriva dos habituais protagonistas do clássico jogo de interesses.
A pior coisa que poderia ter acontecido, aconteceu! Coexiste hoje um poder (de políticos apenas medianos, numa análise bondosa...) e um climax tecnológico. Nesta aldeia global, em que tudo acontece em simultâneo, de facto não é possível identificar "o rosto" da tragédia. Não há rosto, mas apenas uma sucessão de bites (ordens, contra-ordens e muitos milhões...) sem origem definida. É a tecnologia no seu limite. É o abstracto, a não existência, o "não rosto" como forma suprema de realidade. É a finança sem economia e, pasme-se, é a finança e a economia, sem política.
É por esta razão que olho para o palco e o que verdadeiramente me preocupa não é o actor, o político do momento, a marionette mais ou menos simpática, mais ou menos competente ou empenhada, mais ou menos inútil, mais ou menos silenciosa, mas saber se aquele palco existirá por muito tempo.
É que aquele é o palco da democracia!