(O Expresso publica cinco textos de cinco "criticos literários" sobre o livro "Comissão das Lágrimas", de Lobo Antunes. Parece que não sou o único leitor angustiado...)
«[...] Os acontecimentos de 1977 são tão trágicos e fortes que se fica com a vontade de que "Comissão das Lágrimas" fosse um romance sobre a Comissão das Lágrimas; porém, Lobo Antunes afasta-se desse caminho, o que lhe interessa são as vozes que vivem na cabeça da narradora, cujo pai foi um dos torcionários, e que explica agora pecados alheios dando voz a mortos e vivos. O texto, torrencial mas elíptico, cruza tempos e testemunhos, repete frases e estribilhos, comentários racistas, memórias de família, conversas de seminaristas e coristas, associações livres, confusas e poderosamente poéticas. [...]
Pedro Mexia
«[...] E ainda que seja justo reconhecer que conseguimos isolar frases, excertos, páginas que têm uma grande força e densidade, logo somos obrigados a verificar que eles são submetidos a um dispositivo que os evazia e tudo devolve, transformado no artifíco gratuito de uma hiperliteratura deslumbrada consigo mesmo.»
António Guerreiro
«[...] Em última análise, o trabalho de construção do romance cabe sempre ao leitor. É nele que as vozes têm de ecoar. E é aqui também que o problema de Lobo Antunes se coloca. Porque as suas obras fecham-se cada vez mais sobre si mesmas, tendem cada vez mais para um autismo que deixa os leitores de fora (mesmo que maravilhados). [...]»
José Mário Silva
«[...] E mais uma vez em Lobo Antunes seria preciso regressar à inocência da infância, no pressuposto de que tal coisa possa existir.»
Ana Cristina Leonardo
«[...] O mesmo Lobo Antunes criou uma persona que inventou a literatura como "evento" e o escritor como "personagem literária" e vagamente angustiada, pendente dos grandes temas, enquanto nos convida a torpedear a vexata quaestia: o livro presta? Nem sempre. Os títulos continuam soberbos e as entrevistas também. Lobo Antunes é um virtuoso do florete e do floreado e pratica uma esgrima que prescinde das perguntas piedosas dos jornalistas. Há anos que não consigo acabar um livro dele. Acabei este. Monólogos da consciência, fragmentos de memória e passado, destruição de tempo e lugar que passam a unidades imateriais da escrita, nomes que não existem na economia narrativa nem na voz narrativa. Aparecem e desaparecem. [...]»
Clara Ferreira Alves
Expresso. Suplemento Actual. Nº 2033. 15.10.2011.