(É um texto pequenino que encontrei numa daquelas bancas em que se misturam livros sem qualquer critério... Este, como outros textos, mostram que há qualquer coisa de místico no povo afegão. Aquela árvore, que não para de crescer, também faz parte da outra face deste povo...)
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Estás completamente nu, de pé, num ramo espesso de jujubeira. Trepaste para sacudir os ramos para Yassin. Lá em baixo, ele apanha os frutos. Involuntariamente começas a urinar. Chorando, Yassin afasta-se da árvore e vai sentar-se junto de outra. Retira as maçãs da trouxa, para lá depositar os senjets. Depois, fecha-a, dando-lhe um nó. Esgravata a terra com as suas pequeninas mãos e descobre uma porta à superfície do solo, munida de uma grande fechadura. Abre-a com a ajuda de um caroço de senjet e esconde-se debaixo da terra. Tu gritas:
- Yassin, onde estás? Espera por mim, já venho!
Yassin não ouve nada, vai-se embora e a porta fecha-se atrás dele. Procuras descer da árvore, mas esta não para de crescer. Cais, sem nunca alcançar o solo…
[…]»
Atiq Rahimi in Terra e Cinzas. Teorema.