«[…]
A lua subia contrariada e ganhava uma cor branca, os grilos faziam-se ouvir com mais intensidade, um dos homens que fumava atirou com uma beata para o chão, uma das mulheres assomou à porta e abriu as pernas para urinar e um ribeiro escorreu pela valeta. Outra mulher queimou-se no fogão enquanto fervia água e veio até à rua gritar palavrões para os homens sentados em silêncio. Um mocho pousado numa árvore próxima piou e duas pinhas tombaram sobre o telhado da casa de pedra rente ao chão. Um dos homens mais novos foi ter com os cães encostados à cerca e começou a provocá-los até eles começarem a lutar, depois continuou a dar-lhes pontapés para que eles não parassem. Entretanto procurou uma pedra na base do muro e levantou-a. Tirou lá de baixo umas folhas enroladas e abriu-as várias vezes até encontrar o que procurava, depois pousou-as em cima do muro e, quando parecia que ia urinar, começou a fazer movimentos lentos e depois cada vez mais rápidos até que se vergou sobre o muro, apoiado na mão esquerda, enquanto a direita terminava o assunto. Esperou alguns instantes até que se ouviu um fio de urina escorrer sobre as pedras. Abotoou-se e acendeu um cigarro depois de voltar a guardar a revista debaixo da mesma pedra.
[…]»
Tiago Patrício in Trás-os-Montes. Gradiva, 1ª ed., pp.49-50.
Prémio Literário Agustina Bessa-Luís, 2011