«O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, acusou o Sul da Europa de desperdício de dinheiro em "copos e mulheres", durante a crise que conduziu aos resgate financeiro de países como Portugal, Grécia ou Espanha».
- notícia do dia -
... meu caro Dijsselbloem (que raio de nome te deram...), hoje é o dia mundial da poesia e deixo-te aqui um poema de um tal Alberto Caeiro (não sabes quem é, pois não?!...) para que, na próxima vez que falares dos pobres do sul, aos "copos" e às "mulheres" acrescentes a poesia - nunca perceberás porquê, é um segredo só nosso!...
«Ontem o pregador de verdades deleFalou outra vez comigo.Falou do sofrimento das classes que trabalham(Não do das pessoas que sofrem, que é afinal quem sofre).Falou da injustiça de uns terem dinheiro,E de outros terem fome, que não sei se é fome de comer,Ou se é só fome da sobremesa alheia.Falou de tudo quanto pudesse fazê-lo zangar-se. Que feliz deve ser quem pode pensar na infelicidade dos outros!Que estúpido se não sabe que a infelicidade dos outros é deles.E não se cura de fora,Porque sofrer não é ter falta de tintaOu o caixote não ter aros de ferro! Haver injustiça é como haver morte.Eu nunca daria um passo para alterarAquilo a que chamam a injustiça do mundo.Mil passos que desse para issoEram só mil passos.Aceito a injustiça como aceito uma pedra não ser redonda,E um sobreiro não ter nascido pinheiro ou carvalho. Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ficar iguais.Para qual fui injusto — eu, que as vou comer a ambas?»
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), Poemas Inconjuntos. Ontem o pregador de verdades dele.