(Manifestantes em Kiev - foto retirada da internet)
Irritam-me os comentários relativos a manifestações ou protestos: "são meia-dúzia!", "não representam ninguém!" ou, mais cinicamente, "só estão ali porque não têm mais nada que fazer!" Comentários muito comuns, transformados em argumentos, de quem não tolera o direito à indignação, ou muito simplesmente o direito à diferença.
Sei que é exagerado e talvez abusivo utilizar este exemplo/acontecimento, mas apetece-me perguntar se os milhares, alguns milhares de ucranianos que há uns meses se concentram na praça da Independência, em Kiev, nas condições que todos podemos ver nos media, representam os 45 ou 50 milhões de ucranianos. Se esta meia-dúzia de manifestantes não representa nada nem ninguém e se só estão ali porque não têm mais nada que fazer.
Ou há minorias boas e minorias más? Não se podem comparar coisas diferentes? Pois não, mas na sua essência, na legitimidade política dos actos - actos de maioria! -, são assim tão diferentes? Ou os interesses (e a hipocrisia) são os parâmetros de escolha que estabelecem a diferença?
Quantos dos processos de mudança que aconteceram no mundo começaram com a revolta e apoio de maiorias? Quais?
(Esta irritação é orgânica e resulta de uma crescente e quotidiana asfixia por parte de uma maioria que em Portugal olha e age com desdém sobre todos os que não se acomodam... Não pretende ser uma reflexão sobre o papel das minorias na evolução das sociedades. É um desabafo, um grito de desconforto!)