Sexta-feira, 29 de Fevereiro de 2008

Esboços

(Óleo s/papel prensado, 38x20)

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publicado por Fernando Delgado às 00:27
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Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2008

Rastos

… também há livros falhados – aqueles que por qualquer motivo escolhi na livraria e que chegada a hora da leitura depressa repousaram na estante. Porque este blog me serve sobretudo como o registo de pegadas a que de vez em quando volto (num regresso em que muitas vezes me surpreendo com esses rastos iníquos, não os reconhecendo completamente…), , menciono os últimos a que decretei uma quietude hibernante:
 
O Crocodilo que Voa. Entrevistas a Luiz Pacheco. Tinta da China.
Provas e Três Parábolas de George Steiner. Gradiva.
A última Estação de Jay Parini. Editorial Presença.
Requiem de Antonio Tabucchi. Dom Quixote.
 
(Não há qualquer juízo de valor neste afastamento de leituras iniciadas e interrompidas numa qualquer página mais agreste, mas apenas a confirmação de que algumas escolhas dependem apenas de um impulso momentâneo… Afinal para que serviria uma livraria ou uma biblioteca se tivéssemos todos as mesmas referências?)
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publicado por Fernando Delgado às 00:49
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Segunda-feira, 25 de Fevereiro de 2008

Filhos do Céu

 

(Sempre gostei dos livros escritos pelos homens da ciência, não (apenas) pelo conhecimento científico, mas porque acabo por descobrir que, por detrás daquelas mentes complexas (?), existe uma espantosa e inesperada simplicidade, qualquer coisa que nos diz que o mundo é simples desde que estejamos dispostos a fazer parte dele. Haverá forma mais inspiradora de enunciar esse mundo do que esta (Michel Cassé, astrofísico e investigador)?: A natureza não é mais do que um vago sentimento. E a teoria divorcia-se do afecto. Mas, por outro lado, o teórico encontra-se na madrugada do mundo. Dá os seus passos na inocência. A natureza não mente, mas também nunca comenta as suas declarações.)
 
«(…)
Michel Cassé – Esta coincidência é fértil e sem ela não há biologia.
Edgar Morin – A constituição de um átomo de carbono obedece a uma lei. Quer dizer que tudo o que surge sob um olhar como determinista, obedecendo a uma lei, sob um outro olhar…
Michel Cassé – Quer dizer que a desordem é uma ordem escondida.
Edgar Morin – É tão seguro assim?
Michel Cassé – Digamos que é uma aposta, de algum modo à maneira de Pascal ou ainda antinietzschiana e que fundamenta a física.
(…)
Michel Cassé - Constato, um pouco envergonhado, não ter respondido à questão fundamental que colocou sobre o simples e o complexo e sobre a entropia do universo. Mas antes de responder, queria partilhar a minha confusão. Estou chocado, e desconcertado até, pelo hiato existente entre a transparência da finalidade da ciência e a opacidade do método. Os princípios da análise estão entre as coisas mais bem aceites no mundo. Separar um todo complexo, uma coisa complexa, um problema complexo em diferentes fragmentos racionalmente juntos: este método assenta nos cenáculos científicos e utilizamo-lo todos os dias. Mas as técnicas físico-matemáticas que apontam para esta limpidez são tão esotéricas que não as podemos declinar em palavras. A física teórica dilui o mundo na clareza dos símbolos matemáticos. A natureza não é mais do que um vago sentimento. E a teoria divorcia-se do afecto. Mas, por outro lado, o teórico encontra-se na madrugada do mundo. Dá os seus passos na inocência. A natureza não mente, mas também nunca comenta as suas declarações. Exprime-se com relâmpagos, céus negros, árvores. Ora esta atitude, que consiste em querer colocar tudo em equação, em glifos, esta instância da escrita não pertencerá mais ao escriba do que à natureza? E impedirá que nos lancemos uns e outros numa espécie de introspecção cosmológica? Questão por questão, qual é esta doença do homem, e da qual sou vítima, que o empurra a cortejar infinitamente o infinito? Sofremos da doença da investigação. Que ser é este que se questiona sem cessar sobre a questão do ser? Será a cosmologia um desejo de teologia em vias de cura? Existem coisas bastante perturbantes. Como nos tornamos cosmologistas e porquê? Será que nos procuramos na imensidão cósmica? Isto seria demonstrar uma certa imodéstia. E, sobretudo, qual é o valor deste discurso? Qual o valor da verdade deste discurso? É único? Podemos, pelo menos, designar-lhe a pertinência? Resumindo, o que é o conceito de universo?
Edgar Morin -É a lição kantiana que já evoquei: a descoberta dos limites da Razão pura não esgota o desejo de metafísica, mas confronta-a com a necessidade de limites.
(…)»
Edgar Morin e Michel Cassé in Filhos do Céu. Instituto Piaget.
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publicado por Fernando Delgado às 00:39
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Sábado, 16 de Fevereiro de 2008

Eu cumpri os objectivos...

Há uns dias pareceu-me ouvir o ministro da economia dizer que se mantinha no lugar porque tinha cumprido os objectivos… Como ando farto de pseudo-avaliações achei que não tinha entendido bem e passei à frente… Deparo agora com uma crónica no Expresso em que, ao que parece, o ministro disse mesmo que se mantinha no Governo porque eu cumpri os objectivos.
Estou estarrecido só de imaginar o pobre do Correia de Campos a olhar para a ficha de avaliação e para as notas que o avaliador lhe deu – não se imagina que possa ter tido outra coisa que um necessita de desenvolvimento, que não passa de uma expressão simpática para dizer és um idiota! Adorava conhecer as fichas de avaliação dos outros ministros, dos que não saíram. E já agora o nome dos avaliadores…
(A avaliação, qualquer avaliação, não tem nada de extraordinário desde que se limite a medir resultados, mas torna-se repugnante quando põe em causa a dignidade dos avaliados. É aqui, neste limiar psicológico que se identificam também os limiares da prepotência de uma qualquer tribo temporariamente eleita e permanentemente efeitiçada... Resistir à tentação ainda acaba por ser o menor dos pecados! Ou muito me engano, ou um dia o feitiço vira-se contra o feiticeiro...)

publicado por Fernando Delgado às 00:12
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Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2008

Cubos...

Andava eu à procura de outras coisas..., e deparei-me com este cubinho, cheio de outros cubinhos, que há uns anos me deixou a desagradável impressão de que havia coisas muito simples que a minha modesta inteligência não conseguia resolver... É por isso que ainda hoje acho este brinquedo um miserável instrumento destinado a exorcizar o masoquismo que há em cada um de nós.
  
Adiante, porque as configurações são tantas que há sempre um grão de areia (não sei que lhe chame) que me escapa..., mas lembro-me que havia um ou dois colegas de escola que conseguiam resolver o raio do cubo. Agora que sei qual o número de configurações possíveis (só não o escrevo para não ocupar muito espaço), pergunto-me a mim mesmo que diabo de magia existia nas mãos daqueles colegas - é que não há inteligência que chegue para tamanha montanha de hipóteses... É mais que certo: há problemas cuja solução depende apenas da intuição (La Palisse não desdenharia este desabafo!).
      
     
Cientistas norte-americanos estabelecem novo recorde
Cubo mágico resolvido em 26 movimentos 
 
"Dois cientistas norte-americanos bateram o recorde de movimentos necessários para resolver todas as configurações possíveis (43 quintiliões) de um cubo de Rubik, mais conhecido em Portugal como cubo mágico. Dez anos depois, o recorde desce de 27 para 26 movimentos.
Parece uma marca pouco expressiva, mas o computador responsável por pôr em prática o método desenvolvido pelos investigadores da Universidade de Northeastern (Estados Unidos) Daniel Kunkle e Gene Cooperman demorou 63 horas até chegar a este resultado.
Segundo a BBC online, os investigadores começaram por programar o computador para chegar a 15 mil soluções parciais do cubo. Os resultados mostraram que qualquer configuração do cubo poderia ser resolvida com 29 movimentos, mas a maioria só precisava de 26 ou até menos. Os investigadores dedicaram-se então às configurações que davam mais trabalho e o computador conseguiu resolvê-las também com 26 movimentos.
Para chegar a este resultado foi preciso um super-computador: sete terabytes em discos rígidos a cumprir a função da memória RAM (Memória de Acesso Aleatório) — só um terabyte chega para guardar informação disponível numa biblioteca de tamanho médio — dotaram o sistema de capacidade suficiente para chegar a este resultado de forma rápida, de acordo com o comunicado da universidade.
Este recorde aproxima os cientistas do 'número de Deus', nome por que é designada a solução universal do cubo de Rubik com menos movimentos.
Em Maio de 1997, Richard Korf, da Universidade da Califórnia, anunciou que tinha descoberto uma solução de 18 movimentos. Mas o cientista não conseguiu provar esta teoria, fixando-se o recorde em 27 movimentos.
Criado em 1970 por Erno Rubik, o cubo mágico não é só um dos quebra-cabeças mais conhecidos no mundo. Segundo os autores deste estudo, a procura de novas soluções é uma ferramenta importante para os investigadores. 'O cubo de Rubik é uma sala de teste para os problemas de pesquisa e enumeração, uma área de investigação que reúne cientistas de várias disciplinas, da inteligência artificial às operações', disse Cooperman. 'Permite aos investigadores comparar as suas metodologias num problema conhecido e igual para todos', explicou."
PUBLICO - 16.08.2007
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publicado por Fernando Delgado às 00:22
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Domingo, 10 de Fevereiro de 2008

A. Lobo Antunes

(Há muitas maneiras de ultrapassar a irritação com leituras difíceis, mas aconselho a mais simples – comprar outro livro, do mesmo autor, de preferência com pequenas crónicas ou contos. É nestas coisas pequenas que às vezes se encontram os ténues traços que permitem outras leituras. Nestas crónicas de Lobo Antunes é fácil encontrar esses traços, às vezes como chaves de uma qualquer porta... Já aqui o disse, mas repito - Ontem não te vi em Babilónia, irritou-me..., é que eu gosto de Lobo Antunes... e agora reconheço que fui apenas preguiçoso e, por isso, desisti cedo demais...)
 
«Só vi Augusto Abelaira uma vez. Mário Soares, primeiro-ministro, tinha convidado quinze ou vinte escritores para tratar da mudança de Fernando Pessoa para os Jerónimos. Eu estava a começar a publicar e, de uma assentada, deparei-me com as celebridades em peso. Conhecia-as das fotografias dos livros e achei-as muito velhas e muito feias, desprovidas da dignidade majestosa das contracapas. Lembro-me de ter pensado
-Se fosse mulher não queria um destes caramelos nem de borla
e a obra de quase todos, que já não tinha em grande conta, desceu, dentro de mim, um degrau invisível. Os sofás da residência oficial eram imensos e moles. A certa altura, num deles, sentavam-se José Hermano Saraiva, Fernando Namora e Abelaira. Como eram pequeninos e as almofadas profundas só lhes via as cabecinhas, como maçãs poisadas numa prateleira, e os pés, sem alcançarem o chão, a dar e dar. Gaspar Simões tinha mais brilhantina que cabelo
(conforme eu suspeitava)
e Natália Correia, com uma boquilha do tamanho de uma muleta, varria a sala em gestos de Dama das Camélias. O seu peso ajudava-a a não levantar voo. Soprei para o Zé Cardoso Pires
-Que colecção, meu Deus
ele enfiou-me o cotovelo na barriga para me calar, um movimento mais amplo de Natália Correia disparou o cigarro da boquilha, e fiquei à espera de ouvir a explosão, lá ao fundo, quando a beata-bomba atingisse o tapete. Essa noite de Feira Popular veio-me à memória quando soube da morte de Augusto Abelaira. Fraco leitor dos seus romances sempre tive por ele, no entanto, admiração e estima. Havia neste homem, frágil, apagado, uma dignidade que me tocou.
(...)
Graças a pessoas como ele o meu trabalho tornou-se mais fácil: consistia apenas em erguer a casa sobre as fundações da seriedade intelectual que deixaram, com uma coragem e uma angústia sociais que, felizmente, me foram poupadas. Insisto na palavra coragem, porque é rara e preciosa. Como a palavra modéstia. Como outra que vou repetir: exigência. Porque, não tenhamos dúvidas, são as criaturas como Abelaira que tornam o nosso presente habitável, no que a humanidade diz respeito, nos ensinam a importância da honesta fidelidade a dois ou três princípios sem os quais não há literatura de espécie alguma: a da paciente conquista que cada livro é, e amargurada dor de o escrever. Aquele senhor pequenino, só cabeça e pezinhos a dar e dar num sofá cruel, era maior do que eu na estatura da sua condição. Tudo nos separava ao nível do ofício: concepções, ideias, factura. Tudo me aproximava dele na esperança da salvação pela palavra e do trabalho como razão de ser. Quando o jantar de Mário Soares acabou foi-se embora sozinho, a passo miúdo. Vestia mal, as cores não davam umas com as outras, calçava umas horrorosas botas amarelas, de atacadores gigantescos. E, no entanto, afianço que morava nesse sujeitinho uma discreta grandeza, de tal maneira que ao sumir-se na curva do jardim ainda continuava comigo. Parecia quase não existir e, por estranho que pareça, era necessário olhar para cima para o conseguir ver.»
 
António Lobo Antunes in Augusto Abelaira: Escritor (do livro Terceiro Livro de Crónicas. Dom Quixote)
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publicado por Fernando Delgado às 01:58
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Domingo, 3 de Fevereiro de 2008

Desertificação

IMG_2506.jpg

(Penafalcão)


publicado por Fernando Delgado às 00:34
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