Para uma leitura preocupada e reflexiva. Preocupada com analogias de "pequena" escala em Portugal, mesmo as que se podem apresentar como "soluções" (todo o interior florestal/pirómano do país...); reflexiva no entendimento da evolução histórica, a longa evolução histórica destes fenómenos, as suas causas, as suas consequências e, já agora, os seus protagonistas.
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Ao longo da última década, alguns governos, grandes empresas e organizações com grande poder económico, sediadas em países como a China, a Arábia Saudita, a Alemanha, o Reino Unido, e outros estão a comprar grandes extensões de terra em diversas regiões do mundo, destacando-se África, Ásia e América do Sul. O objectivo é a extracção dos recursos minerais e também o uso agrícola e florestal. Há estimativas que indicam que desde o ano 2000 foram vendidos cerca de 50 milhões de hectares a governos e empresas estrangeiras.
Este assalto aos recursos naturais por parte de alguns países que dominam o mundo e controlam a economia global, revela a face perversa da lógica de desenvolvimento dominante, em que é possível a alguns países comprometerem o potencial de desenvolvimento de países mais pobres, tantas vezes sem qualquer preocupação de bem-estar para com os povos que aí residem. Se as colonizações decorrentes das descobertas marítimas dos portugueses e das conquistas europeias provocaram uma séria delapidação de recursos nos continentes e países então colonizados, o assalto em curso é de uma brutalidade cega e surda, mas tragicamente devastadora.»
Helena Freitas. O Assalto aos Recursos Naturais. Público, 10.10.2013.