(Apesar de tudo, este velho do Maio de 68, diz coisas – dizia em 1999, ano da recolha destas conversas … -, que parecem novas. Ou é esta realidade parte do futuro de que ele falava? Se é, há que reconhecer que ainda anda por aí muito chefe de estação sem comboio, ou incapaz de perceber que o comboio chegou ao fim da linha há muito tempo…)
«[…]
Qual é então o papel de um líder político?
É certamente procurar agir sobre o futuro. Ele não é apenas um chefe de estação das “tendências pesadas” da sociedade, que se contentaria em manobrar a agulha, segundo horários definidos noutro lado. Mas ele também é um homem todo-poderoso que, pela sua simples vontade, determinaria o futuro, como o pretende a concepção antiga da política, fundada sobre a delegação total da autoridade: a sociedade dá mandato a um homem político, e em seguida ela aprova ou desaprova, reelegendo-o ou despedindo-o, como os romanos no circo saudavam ou condenavam os gladiadores, levantando ou baixando o polegar.
As sociedades mudaram. Hoje – é uma banalidade, mas é a realidade -, a transformação do mundo é tão rápida que desorienta os cidadãos. O que parecia imutável torna-se em pouco tempo ultrapassado, ou mesmo arcaico. A história da unificação alemã é um exemplo desta evolução fantástica. A tecnologia oferece outros. Hoje o presidente da República Francesa, quando fala dos jovens, sente-se obrigado a falar de computadores, mesmo se, visivelmente, não percebe nada disso, porque não se pode falar da sociedade sem evocar a informática, o que há vinte anos não interessava a ninguém.
(…)
A crise actual vem também do facto de, pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, as sociedades europeias recearem ser no futuro mais pobres que hoje e que no passado. É uma ruptura dramática com a evolução anterior. A força dos projectos conservadores ou sociais-democratas dos últimos quarenta anos consistia em poder garantir uma melhoria a prazo. É o que explica o fracasso das ideologias de alternativa radical, quer se trate do comunismo autoritário, ou dos revolucionários “bem pensantes”: frente a uma melhoria constante das condições de vida, a sua crítica não tinha credibilidade. Hoje é muito mais difícil garantir um tal futuro. Por isso, é necessário fazer política de outro modo.
[…]»
O Prazer da Política. Daniel Cohn- Bendit. Conversas com Lucas Delattre e Guy Herzlich. Notícias Editorial. Colecção Sinal dos Tempos.